Prova de Amizade






Archie Kane e Mica Wodanna são amigos desde quando eram crianças. Isso faz mais de quinze anos, mas os detalhes de como a amizade começou voltou a fluir nitidamente na mente de Kane. 

Wodanna interferiu em um ato de bullying que garotos bem mais velhos faziam com ele só porque era “diferente” da maioria dos alunos da escola particular em que ambos estudavam. Havia recém vindo de Curitiba e se mudado para Florianópolis.


— Por que você me defendeu? 


— Porque não era justo apanhar de caras bem maiores do que tu… - disse com um sotaque catarinense bem carregado.


— Você me acha esquisito? 


— Não. Tu és lindo. – o mais velho respondeu de imediato causando um rubor no rosto claríssimo do outro. – Como uma escultura feita de neve… me pareceu tão frágil e por isso senti que precisava te proteger.


O garotinho albino de estatura baixa sorriu tímido, fazendo o maior sorrir também.


— E além disso, teus olhos são iguais aos meus… temos algo em comum, apesar de sermos diferentes, viu?


Então a partir daquele dia, os jovens não se desgrudaram mais.

Atualmente Archie tem vinte e três anos. Sua aparência, em pleno século vinte e um, ainda causa estranheza por ter nascido albino. Têm a pele assim como os pêlos branquinhos e os olhos cinza claros, assim como os do amigo, algo que os uniu desde a infância deles. 

Como diz seu o próprio amigo, é um hacker “do bem”, trabalhando como um dos “nerds” da segurança da Google. Por causa de sua genética rara, infelizmente nunca foi de ter muitos amigos, se isolando do mundo, se rendendo à timidez quase extrema e à ansiedade demasiada. 

Em relação a sua sexualidade, se descobriu bissexual há pouco tempo, tendo dificuldades de se aceitar completamente, diferente do amigo que se assumira gay fazia alguns anos, de maneira quase natural. 

Já Mica tem dois anos a mais que o outro e, por ter uma aparência mais “padrão”, sempre foi mais sociável e extrovertido, acabando rodeado de amigos. É um atleta surfista em ascensão. Têm cabelos compridos ondulados e loiros escuros. Seus olhos cinzas são maiores do que o normal. Sua beleza exótica chama a atenção de quem o vê.

Desde quando tornaram-se melhores amigos, uma promessa não verbalizada foi instaurada entre eles. Quando tivessem condições de ajudar a vida do outro, poupando possíveis sofrimentos, isso seria feito. 

O que não sabiam que talvez isso poderia ter um limite.

Em uma noite de verão, saíram juntos para uma boate LGBTI+ badalada de Floripa. Mas custou tempo e paciência de Mica para que conseguisse isso. Tirar o mais novo de casa e do meio de sua leitura determinada de dicionários de diferentes línguas era uma tarefa nada simples.

Assim que chegaram ao local que já estava lotado, Archie se permitiu pegar na mão do amigo como forma de proteção e segurança. Com isso, o outro sorriu pelo simples gesto e ousou entrelaçar os dedos, temendo que fosse interpretado de outra forma, mas o ato foi aceito sem reações incômodas vindo do mais novo. 

Aos poucos, Wodanna apenas com sua presença fez com que Kane se sentisse mais à vontade e não ligasse mais com os olhares alheios sobre si. Desse modo, também se permitiu experimentar bebidas e danças que havia se proibido experimentar durante sua juventude. Geralmente o ambiente claustrofóbico e com luzes fortes demais não lhe era tão divertido, mas com Mica junto de si, tudo aquilo não atrapalhava em nada. 

Trocavam sorrisos e gargalhadas quando a música favorita de ambos, Miracle Aligner de The Last Shadow Puppets, começou a ecoar no ar, vindo de grandes alto falantes estrategicamente posicionados perto da pista de dança. E em uma tentativa de ensinar para Dave uma dança diferente, Mica pegou na cintura do amigo o fazendo sentir que uma nova crise viria por aí.

Havia esquecido como nos últimos seis meses, seu corpo estava mais sensível a toques podendo ser estímulos sexuais ou não. Aparentava ser uma disfunção sexual um pouco mais delicada. Além de ficar ereto em momentos inadequados, Kane sentia uma sensação dolorosa e tinha dificuldades em “resolver” o problema. Como se fosse uma ejaculação retardada, causava desconforto e nisso perdia muito tempo para solucionar o incômodo fisiológico que possuía.

Sentindo suas pernas enfraquecerem e seu rosto ruborizar, foi o mais rápido que conseguiu até o banheiro da balada. Não conseguiu nem em pensar na justificativa de sua fuga ao amigo que simplesmente o seguiu preocupado.

Archie entrou rapidamente em uma cabine e trancou a porta. Mica chegou logo em seguida procurando um sinal de vida do parceiro.


— Arch? O que está acontecendo? Está tudo bem?


O mais novo tentou ficar em silêncio, mas a rigidez em meio as suas pernas estava ficando cada vez mais difícil de suportar e com isso acabou soltando alguns gemidos abafados, os quais chamaram atenção de Wodanna.


— Hey buddy, abra aqui... quero saber o que você tem! – Mica seguiu os sons do amigo até chegar onde ele estava logo se encostando na porta e com um tom mais atencioso completou. – Estou ficando preocupado...


— V-você vai rir da minha cara, não quero que me veja assim...


— Vou fazer o possível, mas... de que jeito ainda não te vi? – falou de modo que fizesse o outro se sentir menos pressionado e tenso.


— É que.. estou tendo alguns problemas naturais... hã... de homem? B-bom, talvez não, pois isso com certeza não é normal, Mica!


— Me diz o que é de uma vez! Você sabe que vou fazer de tudo para ajudar.


— É que isso não tem muito o que fazer... está doendo tanto... – falava e em meio as palavras soltava alguns gemidos mais arrastados que Mica achou estranho.


— Por acaso... tu estás duro, Archie?


— Aí c-caralho, estou! Mas não tenho culpa... se trata de alguma disfunção sexual rara que eu tive o azar de ter.


— Destranca aqui, porra! Eu não vou zoar, isso parece sério!


Depois de poucos segundos, a porta se destrancou e abriu uma pequena fresta que Mica com algum esforço conseguiu passar. A cabine era extremamente pequena e no canto ao lado da privada estava Archie abraçado às pernas com uma expressão de dor, fazendo seu rosto claro ter um rubor chamativo. O loiro fechou e trancou novamente a porta, logo se agachando na frente do melhor amigo, percebendo como aquilo realmente o estava fazendo sofrer.


— Foi por eu ter te encostado... daquele jeito, Arch? – aproximou uma das mãos em direção ao rosto do mais novo, desgrudando as mechas da testa a qual já estava úmida de suor. – Mas isso não tem importância agora. Não se preocupe, entendo que tu não tem controle, mas há quanto tempo está tendo isso?


— Vários meses, acho... talvez uns cinco ou seis.


— Cacete Archie, como está passando por algo assim tu ainda não procurou ajuda profissional?


— E-eu tenho vergonha por ser novo e já ter problemas desse gênero... aí acabou que só ficou pior.


Mica chegou mais perto do outro, pegando em seus ombros e fazendo com que olhasse para si.


— Enfim, discutir isso não vai ajudar em nada. Mas... por acaso, tu já tentou bater uma para aliviar isso, não é? – O mais velho falou se referindo a masturbação como forma de solução, mas para o problema de Archie isso não era mais tão prático.


— Várias vezes... mas demora muito tempo para eu conseguir ejacular. Já cheguei a ficar mais de uma hora e acredite, não foi nem um pouco prazeroso..


— Caramba e agora? Será que se tivesse, talvez, mais um par de mãos, não aceleraria o negócio?


— Não, Mica Wodanna. V-você não pode está pensando em...?


— Lamento, mas me parece a única alternativa. Acha que os enfermeiros de algum plantão médico vão fazer o que? Há poucas probabilidades de existir algum remédio que resolva isso neste estado de forma imediata.


— E-eu.. não quero que você se preste a isso, Mi...


— E eu não quero te ver sofrendo de dor até conseguirmos uma solução mais adequada.. isso vai ficar entre a gente e é um sacrifício de melhor amigo que eu faria por você, Archy.


— Er... eu não sei – dizia com a fala entrecortada. – aqui neste lugar... eu...


— Aproveita que não é qualquer amigo que te ofereceria uma carícia íntima tão fácil assim. – Wodanna conseguiu tirar o primeiro sorriso, apesar de fraco, de Kane.


De maneira quase imperceptível, o mais novo sinalizou para que o outro começasse com aquilo logo. Com isso, Mica o pegou com cuidado, sentando em seu lugar ao lado da privada e em seguida o colocando em seu colo.


— Assim será mais confortável... hã... para nós dois... eu espero.


Archie estava enfraquecido demais para opinar ou dizer algo. Ele simplesmente inclinou a cabeça pra trás repousando no peito do amigo.

Em meio a isso, Mica respirou fundo e levou ambas as mãos à calça jeans do outro. A abriu e em seguida posicionou seus dedos em volta do pênis ereto que estava extremamente duro ainda revestido pelo tecido da cueca. Nesse momento, o outro emitiu um gemido alto o fazendo tapar a própria boca com as mãos.


— Relaxa, Arch... tente pensar em outra coisa ou em outro alguém. Lamento que chegamos a estas circunstâncias, mas farei meu melhor para aliviar teu sofrimento... – Mica sussurrou atenciosamente no ouvido do garoto a sua frente, o fazendo gemer com mais frequência quando começou aumentar a velocidade dos movimentos repetitivos.


Archie posicionou as mãos na coxa de Mica as apertando o deixando um pouco aflito, mas continuou os movimentos frenéticos talvez de uma forma muito mais voraz.


— M-Mi... d-dói dessa forma... p-por favor... 


— Oh baby, desculpe, estou nervoso... serei mais atencioso com minhas mãos...


Com isso, Mica pegou as mãos de Archie e junto delas começou a massagear toda a extensão do pênis dele de modo mais suave. Sem demora, o mais novo soltou gemidos mais baixos, com um tom arrastado e de forma mais manhosa, fazendo com que o outro sentisse algo arrepiar por todo seu corpo.

O que contribuía também para a excitação do mais velho aumentar, foi o fato do outro garoto jogar o corpo contra o seu, o qual conseguia sentir todos os batimentos cardíacos, respirações ofegantes e movimentos alheios. Com isso, lutava contra seu desejo de tornar aquele garoto seu, de forma carnal e libidinal. Em meio aos seus pensamentos de autocontrole, Mica ouviu o amigo gemer algo que lhe chamou atenção.


— Mica... p-podemos mudar a posição? – virou um pouco a cabeça tentando manter algum contato visual com o amigo que sem demora se levantou e o levantou em seguida. – Minhas pernas estão formigando e essa sensação está subindo aos poucos… é tão agoniante.


O mais velho ergueu ainda mais a estrutura corporal do outro e prendeu seu corpo no dele, assim se apoiando e o encostando na parede. Uma das mãos de Wodanna foi direto ao órgão ainda estimulado de Kane, enquanto a outra foi acariciar aquele rosto que estava em sua frente e que tentava manter um sorriso apesar de demonstrar fraqueza.

Isso fez com que o loiro usasse a mão “vaga” para abraçar o amigo, enquanto ainda o masturbava com a outra. Logo depois, sentiu duas mãos suaves pousarem sob suas nádegas e subirem até a cintura.

Os gemidos manhosos e aparentemente de prazer do mais novo trouxe uma confiança maior ao mais velho. Entretanto, após quase completados quinze minutos, não houve nenhum resultado efetivo.


— N-não está adiantando, Mi... estou me sentindo tão mal... o que eu fiz você fazer?


— Não! Eu não vou desistir. Falta pouco, Arch...


Mica decidiu trocar de posição novamente, aproveitando que Archie estava um pouco mais forte para conseguir sustentar a própria coluna, o colocou sentado no vaso sanitário e se ajoelhou na frente dele.


— Terei que mudar de técnica, baby boy... – sorriu incerto demonstrando uma sutil timidez. 


A partir do instante que Mica decidiu mudar a forma de agilizar a “ajuda” que estava dando ao melhor amigo, toda a intenção principal do ato acabou ficando de lado. Deixou com que seus sentimentos mais “censurados” que desenvolveu por Archie se expressarem naquele momento. 

Com isso, se atreveu a beijar o pescoço e os lábios alvos do outro de maneira suave tentando fazer com que ele relaxasse. Archie, estando com ambas as mãos agarradas em meio aos cabelos compridos de Mica, retribuia o beijo explorando todos os cantos da boca dele. Enquanto o beijava intensamente, o maior procurava, somente com o tato, a barra da cueca do mais novo e quando a encontrou, pausou o que fazia e olhou profundamente em seus olhos até então ingênuos.


— Agora te peço que pense em outra pessoa, se quiser ou precisar, pois... – iniciou a fala de maneira séria, mas mudou seu tom de voz e assim continuou. – ...não sei se algum dia imaginou que eu te concederia um oral por pura consideração a nossa amizade...


— Mas... e se eu quiser que... – respondeu um tanto nervoso. – hã... seja você aqui, fazendo isso?


Mica riu da resposta e com um sorriso satisfeito no rosto, um tanto safado, provocou Archie.


— Ótima escolha Sr. Kane. Este será o melhor boquete de sua vida. Bom proveito e volte sempre! – Fez o outro gargalhar com uma imitação bem mal feita de algum atendente qualquer.


Apesar de aparentarem descontração àquela situação um tanto atípica, ambos estavam tensos e receosos do que seria a amizade deles depois daquele imprevisto. 

Alguns minutos depois, Mica abaixou a boxer do mais novo, abaixando a cabeça em direção ao órgão ereto e pálido do amigo. Respirou fundo e hesitou quando percebeu que o membro em questão parecia bem maior visualmente do que quando só o apalpou dentro da peça íntima do albugíneo.


— Er... Mica? A-algum problema? Esse seu olhar fixo pro meu pinto está me constrangendo um pouco..


— Ah porra, foi mals... e-eu – gaguejou. – é que nunca... imaginei que excitado ficava tão...


— Grande? – riu tímido mordendo os lábios por causa da visão erótica que tinha de cima do melhor amigo.


— I-isso... e-e é tão lindo. – Mica ainda não havia tirado os olhos da genital do outro e em seguida, ainda mordeu seus lábios como forma de “aprovação”.


Quando Archie ia dizer o quanto estava ficando assustado com a reação de Mica, este agarrou subitamente o quadril a sua frente com ambas as mãos e abriu sua boca envolvendo quase todo o membro avantajado de outrem quase engasgando em seguida.

Como o menor foi pego de surpresa, sua reação foi agarrar e apertar os ombros do maior, enquanto gritou o nome do mesmo com um prazer bem evidente em seu tom de voz um tanto alto.

Como o volume do som do local estava extremamente alto também, seria difícil alguém ouvir ou perceber o que estava acontecendo em uma das cabines do banheiro. A música a qual estava tocando naquele exato momento era Downtown de Anitta & J. Balvin. 

E lá dentro o clima esquentava cada vez mais.

Enquanto Archie ofegava e tinha espasmos quase pelo corpo inteiro, o mais velho já conseguia chupar com maestria toda a extensão do órgão sem engasgar e de vez em quando lambia os testículos só por provocação. 

Em meio a isso, amava a forma manhosa como o amigo gemia seu nome. A partir daquele momento, seu som preferido seria aquele.

Finalmente após de quase dez minutos, Archie desmanchou na boca de Mica que se desgrudou da área íntima dele. Enquanto limpava os cantos de sua boca com os dedos, sorriu de satisfação aproximando-se do rosto do amado.


— Conseguimos, baby! – Festejou ao mesmo tempo que puxou o outro para seu colo o beijando com um desejo imensurável. Kane simplesmente se deixou cair nos braços fortes e carinhosos do melhor amigo. Estava extremamente exausto, mas se sentiu intensamente feliz. 


— O-obrigado Micky... – foi quase inaudível, mas o mais velho conseguiu entender o que lhe foi dito. – E-eu amo tanto você.


— Imagina, baby... foi um prazer lhe ajudar. – iniciou a frase de forma nitidamente maliciosa, mas mudou para um tom mais espontâneo completando a sua fala. – Ah, e eu... com certeza... amo tu também... pra caralho de uma porra!


Mesmo estando fatigado, Archie riu da resposta do amigo e puxou sua face para um selinho molhado e ardente. Logo depois, fitou os olhos cinzentos do outro, e fingindo uma expressão reflexiva, o provocou daquele jeito mais inocente que era especialista em fazer.


— E-eu tô pensando... em não ir procurar mais ajuda médica, Mica. 


— Como assim, Archie... tá louco, tanso?


— É que depois de hoje... descobri alguém que sabe resolver muito bem o meu problema. – sorriu de canto de jeito malicioso e fofo.


— Ah caralho, Archy, como eu amo essa sua tentativa falha de ser safado! – O mais velho agarrou a cintura do outro jovem e deu mais um beijo intenso na boca já avermelhada dele. – Vamos... agora é melhor xispar daqui. – o pegou no colo, seguindo para fora do banheiro, saindo em seguida da boate.


O que eles não perceberam foi um detalhe quase imperceptível em um dos cantos do teto pertencente ao banheiro. Foi instalada pela administração da casa noturna, apesar de ser proibido por lei, a fim de evitar início de brigas ou outros tipos de problemas comuns em danceterias.

 Sim. 

Havia uma filmadora discreta que registrou tudo.

Uma ótima prova de que amigos de verdade são para todas as horas.



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